Os desconhecidos

Galáxia espiral

Ela dizia que talvez devesse deixá-los para trás. Talvez devesse esquecer-se que eles existiam, como se esquecia das outras coisas também. Talvez devesse deixar que as histórias renovassem-se continuamente, criando o tempo todo uma vida nova dela mesma, mudando suas emoções, pensamentos, e a maneira como ela agia. Talvez devesse deixar-se transformar em uma nova pessoa o tempo todo, dar-lhe um novo nome e um novo endereço.

Porque, pensou, ela não sabia, de qualquer forma, quem ela era. Não sabia mais o que lhe tinha acontecido, não sabia mais a que ela deveria reagir. Reagia às memórias encrustadas nos caminhos sinuosos do seu cérebro, pequenas informações sendo transferidas de um lado para outro; sofria, ria e refletia com elas, mesmo sem saber se tais memórias eram verdadeiras. Sem saber se elas eram as suas próprias memórias, ou histórias plantadas por desconhecidos que penetravam-lhe a mente nos seus dias mais escuros, permaneciam por certo tempo, excitando e confundindo o coração, deixando faltar-lhe o ar e a paz, perturbando os outros pensamentos que sempre se comportavam como uma grande e poderosa correnteza para serem reconhecidos por ela; e indo embora – esses desconhecidos – assim como vieram, um facho de sombra no dia ensolarado que desaparecia e deixava um rastro de melancolia, feridas e cansaço nos dias seguintes ao incidente.

TS


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