Alguém não pode ouvir. Ela anda devagar, sussurrando para o chão, enquanto vence a luz fraca de cada cômodo que passa. Num meio-sorriso, não se importa. O que importa, afinal, um segundo de silêncio, meia hora de silêncio? Ou uma noite?
Ela anda devagar. Carrega as coisas de lá para cá, olhando pelos cantos dos olhos, procurando um movimento sob a luz fraca dos quartos, será que alguém acordou? A casa nem é tão grande, não é sacrifício nenhum. Ninguém faz barulho, ninguém faz como ela fazia. Porque é sempre diferente, o começo, do fim. Eu imagino se o começo pode ser igual ao fim? Por que alguém escreveria o fim se ele é igual ao começo? Ou ao meio?
A casa está escura, é sempre tão escura, com suas luzinhas fracas e amarelas vindas de cada cômodo da casa. À cada porta que ela passa, percebe do seu lado, na parede do corredor, uma penumbra enorme, deformada, que se movimenta à medida que ela caminha. Que ri aos passos dela.
Mas não, não se importa. Em arrastar os pés pelo assoalho de madeira, aqueles bem barulhentos, então ela escolhe cada pedaço do chão para ser pisado, como se fosse uma amarelinha. E conhece aquele chão – sabe exatamente qual pequeno espaço poderia ranger sob seu peso. Ela anda confiante, devagar, apoiando-se nas paredes, como se algumas áreas do chão contivessem minas escondidas e fossem explodir ao mais sensível toque dos seus pés.
De manhã, o sol não entra por nenhuma janela, mas instintivamente ela sabe quando a noite foi vencida. Sentada no sofá, ela entorna de uma vez só um copo de leite garganta abaixo. Levanta-se e caminha em direção ao corredor – acendendo, sem pensar, luz por luz, de cada cômodo.
Não há reclamações, gritos, nem lamúrias. A casa está vazia.
TS