Andar apertado. Não tem pressa, mas anda desencontrando os passos. Não são ruas, essas, são espaços preenchidos, e eles não foram escolhidos por ela.
Quando alguém decidiu que aqui teria uma rua, o sol devia estar morrendo, as árvores todas velhas, perdendo folhas, fazendo um corredor imenso até a sua figura irreal.
Desce as escadas rumo ao subsolo. O trem demora a chegar, e o tempo que poderia gastar pensando ou refazendo contas se transforma em pensar no frio, vento vindo do túnel, arrepiando-a debaixo da blusa fina.
A flor voa, fugindo – desiste, e vai pousar nos trilhos. Sente-se deslocada, assim que, logo após fitarem a flor sobre os trilhos, as pessoas prontas para o embarque sobre a linha colorida direcionam seus olhares para ela.
Observa a flor, um borrão verde e rosado sobre os trilhos amadeirados. Mecanicamente, aproxima-se da linha amarela. Agacha-se, desce na cavidade larga, buscando alcançar a flor.
As pessoas se alarmam, e cria-se um pequeno motim.
Ela sorri, a flor na mão, ainda jovem. Alcança a beirada da plataforma, coloca a flor sobre a bolsa no chão e impulsiona o corpo para cima, voltando a ficar atrás da linha amarela, ainda sob brados de desaprovação, como portas rangendo em dia quente.
O vento aumenta, o trem se aproxima, deslizando como se andasse em bolhas de sabão. As portas se abrem e, antes que ela entre, uma mãe e seu filho pequeno deixam o trem.
Desgastada, a mãe procura um banco e derrama-se no primeiro que encontra, frente à porta que acabara de deixar, o filho seguro pela mesma mão que carrega mais duas sacolas do seu tamanho.
Ela dá um passo, deixando a plataforma. Vira-se para trás, fitando a mãe e o pequeno garoto. Volta-se correndo, entrega a flor para o garoto e corre para o trem – entra segundos antes das portas se fecharem e o trem deixar a estação.
TS