Posso me sentar aqui do seu lado?
Ela sorriu, permitindo de modo gentil. A senhora sentou, abriu sua sacola, tirou um novelo e uma peça de lã inacabada, presa a duas agulhas de plástico. Deu uma olhada à frente, para os patos nadando na margem do lago, recebendo pedaços de pão das crianças que se divertiam com aquilo. Pegou as duas agulhas com as mãos e começou a tricotar pacientemente, com um sorriso satisfeito nos lábios. Satisfação. Um dia bonito, um momento perfeito de sol agradável, a sombra de uma árvore e uma estranha do lado. Ela observou a velhinha que, com paciência, realizava suas manobras manuais, fazendo surgir um sapatinho de bebê, pôde perceber. Sapatinho amarelo, não se sabia ainda o sexo do bebê. Mas parecia trazer alegria, de qualquer forma. A família deveria estar feliz, esperando ansiosos pelo nascimento de um alguém. Ou não, mas pela face risonha da velhinha, era impossível. Impossível fingir assim. Vez ou outra ela parava. Olhava para o lago, e à sua volta. Olhava para a garota ao lado e sorria. Ela tentava, em vão, perceber algum resquício de mágoa no olhar da senhora. Nada, e parecia impossível como aquele olhar lhe transmitia tamanha calmaria.
Quinze minutos se passaram, a velhinha juntou seus pertences na sacola, levantou-se devagar, olhou para ela e sorriu, dizendo um “boa tarde”. Ela fez o mesmo, e teria lhe acenado com um chapéu, se possuísse um. Permaneceu sentada durante mais quinze minutos. Olhou no relógio, impaciente. Chacoalhou as mãos, esfregou-as e seu olhar se deparou com o lago. Havia mais aves ali, nadando, enfiando a cabeça na água e tirando-a rapidamente. O vento fraco alcançava a água, e criava pequenas ondas superficiais, que se expandiam em círculos. Ela perdeu segundos observando o movimento do lago e, sem perceber, ficou num estado de transe.
Pelos seus olhos, passaram-se todos os momentos felizes da sua vida. O dia em que ganhou aquela bicicleta verde, que tanto pedira para o pai, e tivera tido tanta paciência que o pai decidira dá-la de presente assim, de surpresa, sem a menina saber. Lembrou do primeiro show que viu e da primeira vez que se sentiu flutuando no ar. O primeiro namorado, o Natal inesquecível. A visita a alguém que não via há anos, e tinha sido reconhecida como a boa amiga novamente. Cada arco-íris que viu, pôr do sol, cada onda alta que viu se quebrar, eclipses, crianças de olhos brilhantes sorrindo pra ela, o próprio marido. Lembrou-se dos livros que leu, filmes que viu, músicas que tocou. Pessoas com quem conversou. Abriu os olhos. O último círculo na água estava sendo desfeito, e ela viu à sua frente o seu marido, preocupado, querendo saber se havia se atrasado demais. Quatro e quinze, para um encontro marcado às três e meia. – Não, meu amor… – sorriu com os olhos – Pontual como sempre.
TS