Sentou-se na beirada da cadeira com as costas retas. Colocou uma das mãos na mesa, a outra repousou sobre a coxa. Não abaixou a cabeça. Persistiu com os olhos afunilados em olhar para frente. Sabia o que havia feito para estar ali e continuava defendendo o direito de todos de poderem cometer o impropério de dialogar.
Flores não brotaram após um inverno cuja neve caíra degelada das nuvens esbranquiçadas do céu anil. No chão, encolheu-se com as primeiras cores, os amores que cultivou em outonos passados, primaveras distantes que apagaram a face absorta do frio; fizeram padecer os olhos de quem brincou no verão.
Saiu abatida, cabeça erguida. Pensou em gritar, em dizer que não foi o primeiro inverno que venceu; a grama verde enrodilhou-se nos seus braços e o orvalho carmesim caiu mais uma vez no chão. Respirou de modo profundo o ar do amanhã.
Os erros que devem ser cometidos estão de braços abertos esperando pelas consequências, mas não serão outros que lhe darão este prazer – tampouco será ela. O branco não é sempre preto, as cores avermelhadas não contêm nuances que anulam os amarelos ou azuis e vice-versa; e, posso garantir, todas elas vão conviver unidas em uma só obra de arte.
TS