Quero voltar para casa. Eu ainda duvido desses astrônomos quando dizem que o sol e o céu são o mesmo qualquer que seja o lugar – não há sol igual a esse aí. Aqui é frio e eu me vejo buscando aquelas estrelas que costumávamos procurar quando éramos pequenos, e pensávamos que aquilo era só uma colcha grande, de alguns poucos quilômetros, e que se saíssemos da cidade, poderíamos virar pra trás e assistir a colcha desaparecendo no vidro traseiro do carro.
Bem, você sabe que não vou me lembrar de todos os motivos, para pedir desculpas. Não posso dizer ‘desculpe’ sinceramente, se nem me lembro do por quê. O que aconteceu? Não sei como tudo se perdeu. Nem poderia dizer que é uma mera falha de memória, porque seria como se alguém em sã consciência se esquecesse do próprio nome, assim como esquece um guarda-chuva no banco, toda vez que sai do metrô. Eu olho no espelho e vejo sempre a mesma imagem, e eu não posso me esquecer disso. Não sei quando se perdeu.
Bem, que soe idiota. Porque, na verdade, é algo um tanto idiota, estar com saudade e querer ir embora assim, de repente, por causa de uma lembrançazinha de uma época que você nem sabe como acabou – e se não acabou? Qualquer que seja a impressão e os fatos, soa idiota porque o que eu vejo aqui, agora, olhando para esse sol frio e gelado, é saudade. E eu faria um gesto negativo com a cabeça toda vez que pensasse ‘é bobagem’.
As pessoas se importam, dão uns passos para o lado te deixando ali e aí, viu, lá está você novamente, olhando para o sol frio e imaginando como foi que tudo terminou. Ninguém tem a história das vidas estampada no rosto, então é como se todos fossem novos robôs que estivessem à espera de uma nova experiência para guardar em suas cabeças-de-lata. Eu não tenho problema com robôs, entenda, eu só não quero que eles me olhem com aqueles olhinhos parados e vazios, porque isso me incomoda. Me incomoda muito.
Então, estou com saudade. Mas antes de voltar, preciso saber por quê eu fui embora.
TS