Para ser assim, ela diz. Apenas para ser assim.
Para apagar a luz quando vai se deitar, beber a água do copo de uma vez só, derrubar a taça de vinho no chão por acidente, sentar-se à mesa enquanto as pernas balançam inquietas e atrapalhar-se com os talheres, tentar adivinhar o sabor da comida antes que ela toque os lábios, com os olhos fechados – apenas para ser como essas tulipas, que são antes de desejarem ter sido.
Cuja aparência forte, quase de concreto, um castelo arroxeado capaz de proteger seu interior sem nenhum tipo de hesitação ou argumento; não consegue, porém – sem nenhuma exceção – esconder a fraude; pois quando tocadas, declaram-se tão frágeis como suas pétalas jamais quiseram ser. Um golpe que desfruta da delicadeza de apenas dois dedos, arrancando suas pétalas uma a uma, enquanto a farsa da resistência é revelada lentamente, à medida que pétala após pétala vai ao chão, embebedando-se e enrubescendo com o vinho rosado, cortadas pelo vidro da taça em pedaços.
Ela pergunta a razão, a todo momento, e quase grita – enquanto ajoelha-se no chão e apanha as pétalas com cuidado, juntando-as em uma das mãos como se ainda não tivessem perdido a vida, tentando dar à elas a força que elas não continham, transformar a realidade no que antes parecia ser; sem lágrimas, apenas uma raiva contida por aquela ignorância, enquanto os olhos tentam parecer indiferentes, e as mãos são feridas pelos cacos que ornam os azulejos desenhados.
TS