Quando você desistir de ficar com medo dessas coisas que não têm importância – ela disse – você tem que andar sozinha, com passos bem curtos, seguros, sobre aqueles sonhos pavimentados. Sim, nessa deselegância ridícula. E quem vai correr atrás, se você anda sem olhar para a frente? O chão é tão solidário, flores em todos os cantos, sorrindo-lhe uma realidade de mentira.
Se ao menos pudesse contar sobre sua vida, ao invés de murmurar conselhos que há muito tenta praticar. Por que chora quando enxerga as luzes da manhã acertando as nuvens – parece aquele silêncio que sussura, insistente, tentando levá-la para um outro dia.
Será que se pode colocar a culpa nos meses após o aniversário para explicar por que sente-se tão diferente? Ou talvez no verão? Quando abre a janela, e o sol aparece bem ao leste nas primeiras horas do dia – onde não há nenhum edifício escondendo o seu nascer – como se algum tivesse tido êxito em fazê-lo algum dia.
Ou porque, se prestar atenção, percebe de repente que tudo parece ser como observar uma árvore dentro de um carro a cem quilômetros por hora, e saber que, mesmo assim, tem a sensação de ter sempre que correr para que não se perca na próxima esquina?
(Foto: Wirestock)
TS