Copo azul

Copo azul

Ouviu o barulho metálico e abriu os olhos. Viu o relógio digital brilhante piscando ao lado da cama, duas e cinco da manhã. Olhou para os dois lados, estava no meio da cama de casal, um travesseiro de cada lado. A penumbra confundia, a porta era do outro lado.

Janela aberta. Um vento gelado balançava a cortina com violência. Levantou-se e desceu as escadas. Que tipo de pessoa dorme e deixa a janela aberta em pleno inverno?

“Ele é louco”.

Uma rosa afogada dentro de um copo alto azul e transparente, cheio de álcool vermelho. O roxo reluz o brilho da lâmpada forte e nada mais se enxerga. O mundo se torna todo branco, e não há nada ali a não ser o copo com a rosa, pairando no ar.

Ela passa a mão por baixo do copo, certificando-se de que não há nada ali. E não há nada ali que pudesse sustentar o copo. Existe uma pressão no lugar e ela se sente esmagada, sem ar. Parece que muitas pessoas estão ali, gritando, empurrando-a contra toda a multidão, mas ela não vê nada. Não ouve nada e se sente sozinha, a não ser pela vida morrendo ali no copo azul.

Parece um lugar fechado e pequeno, e ao mesmo tempo parece infinito. Aquela imensidão clara, uma luz vinda de um lugar inexistente e a rosa vermelha contrastando com o branco dá a impressão de que algo que ela não enxerga está ali.

Pegou o copo e jogou-o com força para o nada. Assistiu surpresa a trajetória do copo, que não caiu. Não caiu em lugar nenhum. Assim que perdeu a força e parou de correr na horizontal, foi caindo aos poucos. Caindo no nada. Ela assistia o copo e a rosa vermelha caindo no nada, não havia chão. Ela estava no meio do nada, parado. Resolveu não se mexer.

“Ei, idiota. Onde você estava?”

Os olhos se abriram e ela viu a face rosada da rapaz. O que deixara a janela aberta no inverno, e a deixara sozinha dormindo na cama de casal.

“Como se consegue andar por cinco quilômetros sem descobrir por onde andou? Se era um deserto, uma avenida movimentada, se estava escuro, claro ou se estava chovendo?”

Não havia nada para ver. Nada para ouvir.

Olhou para o lado, na mesa de vidro. O copo repousava ali.

TS


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