Como se viver nas nuvens fosse um desprazer

Como se viver nas nuvens fosse um desprazer (foto por Rebecca Nelson)

Éramos sempre irmãos. Sempre saíamos na chuva, para brincar. E eu tremia de medo dos trovões e dos pingos fortes da água caindo sobre nós – tentava fugir, mas não queria desaparecer. Será que os pingos são de água, mesmo? Pesados, assim, despencando das nuvens como se fossem feitos de concreto? (E aqui me remetenho ao título – você pensou nisso, que eu sei). Ninguém tinha me ensinado como a natureza agia. Adiciono aí a humana – essa não aprendi até hoje.

Ai, que vergonha. Pobre, pobre – é só no que você fala, criatura! Eu sinto como se as pistas de kart corressem com os pilotos, e ninguém mais chegasse a lugar algum, corressem no infinito do asfalto escurecido, enquanto as faces da Terra disputam a luz do sol. Como aquela história da tartaruga e da lebre onde, em condições deste planeta, a lebre teria vencido.

Mas sabe o que me deixa mais furiosa, com olhos avermelhados, sentindo que o ar que invade meu corpo pelas minhas narinas não é suficiente para apartar esse incômodo? É você, com feição em desilusão e ira, amaldiçoando sua própria ignorância, clamando como nunca mais vai agir daquela maneira. E então, não sei como as promessas são quebradas, onde elas são perdidas e por que são esquecidas, mas sei que, tempos depois, tudo acontece novamente e eu me vejo assim – com um trabalho danado, quadruplicado, horrivelmente aflitivo, mendigando peças da minha memória que se encaixem como travesseiros no seu pesar, procurando palavras que sirvam para lhe acalmar o coração (e aí está você, novamente, pobre).

E então, você ainda diz – acha que ajo assim propositadamente; só para que, no fundo do meu orgulho, você se sinta incomodada?

O que posso dizer? – Eu sei que não.

Mas se a sua incapacidade de cumprir é um fato do seu conhecimento, poupe-se de prometer.

Confie-me apenas que não pode.

TS


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