Como se fossem faróis

Como se fossem faróis

Ao passo que desço as escadas com as flores nas mãos, olho a rua enevoada desta manhã acinzentada, onde os carros coloridos passam sem ruídos, e as árvores balançam um sorriso vermelho quando os meus olhos caem sobre elas; ela não devia ter visto o sol nascer naquele dia, com aquele estranho olhar que desceu no concreto verde-musgo do muro do final da rua – saía sem freios, corria ao vento, de passadas nervosas, e caía nas poças de água, sujando o seu vestido amarelo e ouvindo os chamados gritando, indignos, do próprio cérebro a trabalhar sem a sua permissão; olhava as estrelas caindo como se fossem faróis sobre ela e assustava-se, por um segundo, porque a luz ia cegá-la caso ela não chegasse ao seu destino antes que aquele momento cessasse.

Se ela soubesse dos dias em que podia sair sem envenenar-se, sairia, portanto. Os olhos vendados com uma tira escurecida ainda deixavam passar através do pano pequenos detalhes que ela não veria se os olhos estivessem limpos, e isso fazia com que ela se libertasse, por determinados momentos, até o amanhecer.

TS


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