Não havia nada a dizer enquanto ela entrava no seu encanto usual. Se os lagos eram mais turvos e em carmesim, sentava-se no chão com as pernas cruzadas, segurando sua alma com os braços para que ela não vazasse para fora de si mesma, espalhando-se universo afora.
Ia-se embora com certo sorriso no olhar, alívio no coração, quando podia estar ali, porque havia todas aquelas cores e as águas tornavam-se mais límpidas; as corredeiras não tentavam, em uma forte torrente, tirar o restante do seu ponto de apoio; era como uma brisa que molhava calmamente as suas pernas e encharcava seus sapatos; seja em que direção pudesse-se ir, deixava-lhe que quebrasse momentaneamente o fluxo.
Não evitava o labor segurar-se na sua alma. Ela parecia lhe fugir por entre os dedos, como água que se tenta conter em um bote cheio de furos, enquanto ela apertava as mãos nos ombros até que as pontas dos dedos se avermelhassem. Via-se esvanecer com certa tristeza, porque já lhe havia ido embora o tempo do desespero e da raiva, do ríspido conflito interno que se fazia enquanto ela insistia em tentar manter-se no seu estado integral.
Agora, ia-se com a corrente, deixando que essa a levasse por aqueles caminhos coloridos, como em um daqueles quadros de Van Gogh, onde os azuis e verdes e amarelos encontram-se num repente, gritando os seus espaços, e caminhos melancólicos, tortuosos, de afeição e conforto, enquanto ela espera ser trazida de volta algum dia em diferente condição.
TS