Borrões de tinta

Borrões de tinta (foto: 'Painter's table littered with paint stains' por Joaquin Corbalan)

Sente o vento no rosto à medida que despenca no abismo, e as cores vão passando como borrões de tinta na frente dos seus olhos. O que aconteceu? Havia papéis no chão, desordenados, e temia não conseguir mais lê-los, porque eram tão caóticos, e não queria ter de se confrontar com seu próprio destempero. Não sabia de nada. Pelos olhos raivosos das flâmulas amarelo-carmesins percebia que o lugar não havia mudado; não estava mais no mesmo espaço, onde costumava ver pessoas. O que aconteceu? Precisava que os portões se abrissem além dos seus limites, e queria estar lá quando isso acontecesse, porque era um momento muito importante. Todas as cores eram brilhantes, e o cérebro brincava de fazer desenhos nas paredes. Um poema de silêncio, como um trem que passa atrás de uma cachoeira alaranjada – coloca no papel a angústia de um inverno indiferente, arrastado. Soam sinos no céu estrelado, chamando-a para uma próxima primavera. Não estão desgastados os sentimentos, eles fogem até o mar que rodeia o pequeno lago, onde se afoga a pluralidade de uma vida que ainda não começou.

TS


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