Um dia me esqueço, e o lado mais claro que pensei ver da Lua, na noite anterior, aparece hoje como era quando criança – o lado invisível não oculta drasticamente tudo o que ela me oferece – sou apenas eu, que teimo em enxergar dessa maneira, na noite em que as nuvens tentam esconder parte do satélite e das estrelas.
Estrelas exibindo sem cessar uma luz emitida num passado distante; como o meu tempo é tão curto frente ao infinito extraterreno, e mal posso imaginar, contar ou medir o espaço vencido por ela – a lembrança de saber que a emissão ocorreu quando eu ainda não havia nascido, ou mal dava os primeiros passos, ou tentava dizer as primeiras palavras, trazem uma sensação insólita de pequenez.
Assim como a pequenez das águas condensadas, no alto, fingindo o poder de esconder, como se o que não se visse, não existisse, nem pudesse ser sentido.
Então não entendo como sinto falta de um corpo cuja mente me parecia ser muito maior, e se as ações – como o andar saltitante e jovial me cativava, e os olhos arredondados, perolados, deixavam os meus sorrindo quando abriam-se devagar todas as manhãs, e os momentos em que compartilhamos todos aqueles nasceres do sol – ainda resistem ao tempo, nítidas na minha memória; não entendo as lágrimas que brotam, em pesar, quando por vezes ainda consigo sentir de maneira tão concreta a mesma impressão de conforto e alegria que sentira quando estava presente, de carne e coração.
Não entendo por que o silêncio, que costumava nos confortar em meio aos ruídos do dia, incomoda-me tanto agora.
Ainda que saiba da estranheza de saber do coração desacelerando aos poucos, em questão de horas, mesmo que tentasse não desistir; da dificuldade que o ar encontrava para circular dentro do seu corpo, com mais e mais frequência a cada dia; de saber que ela entendia que estava indo embora, e embora o seu destino não pudesse estar em minhas mãos, tomei-o, apertando-a contra o peito uma última vez, decidindo que ela deveria partir, sem contar o grande ato de covardia para com alguém tão corajoso, mandando-a sozinha, quando tantas promessas foram feitas juntas e tantos obstáculos, vencidos juntos; essa falta, eu não entendo.
TS