Asa quebrada

Eu pedi para ela ir e ela não foi.

Eu disse que ela não tinha mais chance, que era aquilo. Que ela era criança, boba, infantil. Que no meio daquela gente toda não dava para ela ficar, porque ela ainda era criança, mas que ela não podia ficar com aquelas crianças porque aquelas crianças ali também não eram mais crianças.

Disse que tinha terminado e era aquilo.

Mas então, ela deu um passo para o lado e disse que aquela era uma boa distância. Disse que tinha lido em algum lugar que distância não é problema – tanto faz se ela é pequena ou é grande. Contanto que as pessoas se vejam, e ela me disse que as pessoas se vêem, se elas quiserem.

Ela andou correndo e voou como um daqueles pássaros que voam melhor. Foi para bem longe. Caiu no chão e quebrou a asa esquerda. Chorou, partida, durante quanto tempo poderia viver sem poder voar?

Ela ainda não sabe, mas as asas dela não quebram.

Eu não posso contar para ela, porque ela ainda não quer saber dessas coisas.

Ela quer voar.

(Arte: Denise Laurent)

TS


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