Outro dia sentei-me no banco daquela praça e o observei passar. Andava a largas passadas, e parecia saber para onde estava indo, embora hesitasse, nervoso, a cada dois ou três passos.
Levava um sorvete amarelado em uma mão – fato que não estranhei, embora estivesse muito frio e eu mesma tremesse – e uma pasta preta, grande, retangular, na mão direita; pensei ser um dos seus novos quadros.
São eles os que mais sentirei falta.
Quando a tela colorida piscava aos meus olhos, eu sabia que podia fazer sorrir. E era tão belo, quando misturava dois ou três tons de azul e os deixava escorrer pela tela, manchando seu rosto.
Manchando o meu – palavras carmesins pareciam obrigação frente àquele oceano pintado; e eu, sem saber o que dizer.
Sua pasta arrastava, arranhando a calçada. Como se eu o tivesse avisado em pensamento que o concreto perturbava sua obra, deixou o sorvete verter para o chão, apertando a pasta com seus dois braços junto ao corpo, como se o quadro tivesse sido ferido.
Levantei-me, em um impulso, decidida a dizer-lhe uma palavra, mas o azulado da suas mãos manchadas contrastando com a pasta negra me impediu.
Por não saber reagir àqueles seus quadros.
TS